As pessoas vivem na sociedade do medo, é verdade, porém não é o medo que
aparece como o percussor de sua própria destruição, ainda que o medo
implantado, forjado nos mostre como não devemos ser, é falho a forma como
conduzimos nossas vidas e aí é que vem o controverso assunto: o completo vazio.
Analisando uma cadeia histórica, poderíamos perceber que há em cada
época da vida humana, um motivo ou, simples busca pela razão de sua própria
existência, ora baseada numa questão empírica e, dessa forma, totalmente
regulada pelo conhecimento prévio e contado, ora pela religião, tendo Deus como
o preenchimento do vazio e, consequentemente, a resposta para todas as mazelas
e feiuras que permeiam a vida em sociedade, ainda que de maneira bem singular
explicasse os demônios do ser, mesmo que os demônios fossem nós mesmos.
Não continuaremos nessa linha de raciocínio sem lembrar que, não há
análise parcial do assunto, tendo em vista que, o comportamento humano nada
mais é do que uma mistura de cores, línguas e sensações ou como diria Francis
Cabrel¹ uma mélange de couleurs².
Hoje, embora tenhamos uma série de opções ou como diriam alguns autores,
uma sociedade self-service, famosos por serem chamados na boca do povo por “serve-serve”,
quer dizer, um cotidiano totalmente lotado de variáveis que ocupariam as 72
letras do Alfabeto Khmer³, são
possibilidades de mudança e de escolha. Isso modificaria ou reconfiguraria num
vasto e fantástico mundo de coisas para ocupar o vazio das pessoas e isso é tão inútil quanto mascar chiclete para resolver uma equação de álgebra (BIAL, 2009).
É um fato que a sociedade do vazio é mais uma criação do capitalismo do
que qualquer outra coisa, não há satisfação quando o sistema vigente é o do
capital. O principal objetivo de se analisar o dilema da vida humana hoje é,
basicamente, buscar meios de que cada vez mais pessoas possam se encaixar no
perfil de manipuladas por esse fenômeno que quanto mais tempo passa, mais
consegue arrastar adeptos ou diríamos escravos do vazio.
Criamos em nossas mentes a necessidade de ter tudo e, quando falamos
tudo, não tiramos uma só virgula da lista; são desde abraços e atenção até o
que há de mais caro e inacessível nesta terra que mata e faz viver pessoas sem
ao menos tirar a vida delas.
Quando extraímos a raiz dos problemas, observamos que há um paradoxo:
como vivemos em uma sociedade que tem como pressuposto de vida o vazio se não
sabe lidar com ele? É claro que, buscamos as respostas nas mesmas coisas que os
cidadãos da Idade Média, mas o problema é, nossas perguntas estão sendo
respondidas nas mesmas fontes que nossos antepassados?
Sem dúvida, o assunto é tentador e nos permite refletir sobre os mais
profundos campos desta vida errante que leva a raça humana, não excluímos, nem
salvamos nenhum de nós, porque, até quem questiona demais, não sabe qual é o
caminho correto a percorrer.
Quando uma resposta já não serve para as antigas perguntas, nós devemos
mesmo buscar a solução nas questões do passado ou reformular as perguntas e dar
novas respostas? Bem, o filósofo José Ortega diria que a resposta está no fundo
sinceríssimo de seu ser.
E você, onde anda procurando a solução?
Francis Cabrel¹: Cantor francês.
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